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Já coloquei em outros momentos que tudo tem três lados: o meu, o teu e a verdade, no mínimo. E o assunto "violência policial" é um desses fatos.
Muito tenho lido sobre violência policial, a tragédia que ela representa para a sociedade, em especial para os mais pobres, negros e para as próprias instituições. Isso é um fato e é injustificável. Sim, não tem justificativa para que agentes do Estado, pagos pelos cidadãos, usem de violência sem necessidade para com o cidadão de bem, inocentes; ou que usem de violência de qualquer forma que não seja a necessária e impossível de ser evitada, conforme a legislação que deve ser cumprida pela polícia brasileira militar ou civil.
Porém, aqui gostaria que o assunto fosse visto de uma nova abordagem, não desprezando ou questionando a importância de todas os outras, nem vitimizando, mas procurando solução reais. Nos últimos 20 anos, o desaparelhamento do Estado na área de segurança é um fato, documentos provam. Enquanto a necessidade de melhorias reais nos processos também é um fato. Recentemente alguns números até melhoraram, porém essa melhora trouxe uma realidade assustadora: a violência da ação policial e sua letalidade. Por que a polícia no Brasil está matando tanto? Como chegamos a esse ponto? Isso é o resultado de uma série de atitudes e escolhas feitas pelo governo federal e os governos estaduais do Brasil, que vêm vendo a consequência nos últimos anos.
Vou questioná-los sobre algumas coisas: Qual é o número de policiais por cidadão no Brasil, e qual o ideal previsto na literatura? Qual é o número de policiais que estão se aposentando e como esses quadros estão sendo repostos? Qual é o investimento em formação profissional, treinamento, equipamento, cuidados? Quantas creches têm no Rio Grande do Sul e ou no Brasil para filhos de policiais? Por que o tratamento especial não inclui ninguém que não seja militares ou policiais, que fazem juramentos "mesmo com risco da própria vida"? Quantos profissionais da saúde têm apoio para preservar sua saúde mental, sendo que eles convivem com a violência dia a dia? Quem pode sair de casa e levar um tiro por estar fardado ou por ter usado uma farda? Será que isso não dá medo? Não representa risco para saúde mental, ou tornando o profissional reativo excessivamente às situações?
Como está sendo a capacitação e a formação de habilidades para esses policiais? Como se sente alguém que pede melhores salários colocando uma retro escavadeira por cima e ninguém fala nada, ou quase nada? Como se sente alguém que faz parto, atende convulsão, leva crianças da rua para casa, dá um tiro, leva um tiro ou seu colega tira própria vida? Como se sente alguém que vai aonde o Estado não chega, onde todas as políticas públicas falharam, onde falta tudo e o que sobra é a violência?
Sim, não é segredo que investimentos em saúde, educação e segurança melhoram (baixam) as taxas de drogadição, violência doméstica e violência policial.
Os policiais são cobrados com o rigor da lei. Quase sempre é só ver qual o quadro de funcionários públicos é mais exonerado. Quem é filmado, controlado, supervisionado, corrigido e cobrado o tempo inteiro, e é assim que tem que ser. Uma vez ouvi "fizemos formatura para receber viaturas, nunca vi uma faxineira fazer homenagem por receber uma vassoura nova". Quem coloca em risco sua vida com salários atrasados, bem atrasados?
Será que a violência policial é só culpa do soldado, do sargento, do capitão, enfim de quem está lá na ponta? Quem são os verdadeiros responsáveis pela sua existência ou pela omissão da busca de soluções reais para uma situação que dia a dia piora, como uma ferida aberta que não é tratada e constantemente exposta a infecção?